
Veio tudo de longe para ser uma só coisa, nupcial e magnífica. Caminho e tenda. O mar. Livros. A indizível matéria da dor. Ternura cercada e repartida, pouco a pouco, à mesa rápida dos lábios, clandestina voz baixa das mãos juntas. Sobreviventes de invernos, dúvidas, denúncias. E o teu sorriso honrado. A oferta duplicada e vulcânica dos seios. Esta noite que nos pôs à prova. Sobre o vento e o repouso do vento. E a música ainda cheia de muitos outros quartos. Sim, a importância do teu rosto: alvo claro deste mês desmedido que nós somos. Veio tudo de longe para ser uma só coisa, sagrada e partilhável. O banho comum gradual e abundante dos sentidos. As faces que só tenho entre o convívio doce dos teus dedos sempre em férias. E a chave do desejo. Erecta dureza doadora do óleo e da viagem aos lugares da origem e do êxtase. Resposta da terra contra a terra. E a surpresa ensina e desvenda as partes mais antigas da alegria dupla, densa, nadadora, nossa.
Vítor Matos e Sá, in 'Companhia Violenta'
Publicado por Vivaldo, nº16
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